Resenha: O Príncipe Cruel, de Holly Black
- Laura Lopes
- 9 de jun.
- 4 min de leitura
Publicado em 2018, pela editora Galera Record, O Príncipe Cruel, livro do gênero fantasia, é o primeiro da trilogia O Povo do Ar, escrita por Holly Black. A autora iniciou sua carreira literária ainda jovem e se destacou no cenário da literatura fantástica com obras voltadas principalmente para o público jovem adulto. Ao longo dos anos, ela lançou diversos livros aclamados, sendo reconhecida com prêmios importantes como o Mythopoeic Fantasy Award e o Andre Norton Award.
O Príncipe Cruel entrega ao público uma jornada repleta de aventuras, perigos e superação, narradas pela escrita leve e envolvente de Holly Black. A protagonista, Jude Duarte, é uma personagem forte e determinada, que nos inspira e, assim como os outros personagens, é desenvolvida com profundidade e polaridade. Sua história nos mostra a importância de acreditar em nosso potencial e lutar pelos nossos objetivos, mesmo quando tudo parece estar contra nós.
Jude e Taryn são humanas, e passam a viver no Reino das Fadas após verem seus pais serem assassinados por Madoc, um guerreiro féerico e pai biológico de sua irmã mais velha, Vivianne. Criada como nobre ao lado das irmãs, Jude enfrenta diariamente o desprezo dos seres mágicos, que a veem como inferior por ser mortal. Entre seus principais inimigos está o príncipe Cardan, o mais jovem e cruel herdeiro do rei Eldred. Dentre inúmeros desafios e um jogo perigoso pela coroa, Jude Duarte encontra em seu próprio medo a força que a impulsiona para continuar.
Um dos principais temas abordados em O Príncipe Cruel é a luta de classes, perceptível ao longo da trajetória de Jude. Humana em um mundo dominado por criaturas poderosas e imortais, ela é constantemente lembrada de sua condição inferior. Desde a infância, vive cercada por medos, incertezas e desprezo, precisando conquistar cada centímetro de respeito com muito esforço, estratégia e resistência. A busca por pertencimento também se destaca na narrativa: mesmo diante das constantes humilhações, Jude se recusa a abandonar aquele mundo encantado. Ignora os apelos da irmã para retornar ao mundo mortal, pois considera o Reino das Fadas seu verdadeiro lar, um lugar onde acredita precisar provar que é digna de permanecer.
Mesmo após a proibição do pai, e sem mais esperanças de alcançar tudo o que almejava, Jude decide aceitar um desafio, enfrentando não apenas seus próprios limites, mas também a ameaça constante representada pelo príncipe Cardan e seus amigos — que não apenas poderiam, como de fato tentam matá-la. Desde o início da narrativa, Jude revela a luta diária que enfrenta para sobreviver em um mundo que constantemente a rejeita. Ela se move com cautela, sempre atenta, convivendo com um medo tão constante que passa a fazer parte de quem ela é. Posteriormente, ao negociar com o príncipe Dain, Jude acaba revelando seu maior medo: perder o controle de si mesma e ser manipulada pelas criaturas feéricas.
No desfecho do livro, Jude demonstra o quanto aprendeu com cada experiência vivida até ali. Os ensinamentos adquiridos com seus parceiros espiões, somados à disciplina e à visão estratégica aprendidas de seu pai, um comandante de guerra implacável, se revelam fundamentais para a construção de um plano audacioso. Com ele, Jude não apenas salva o Reino das Fadas, como também conquista uma posição de poder e respeito dentro da corte, algo antes impensável para uma mortal. Apesar das mentiras, manipulações e traições que permeiam a narrativa, Jude se mostra capaz de jogar o jogo político da corte com maestria. Sua ascensão surpreende não só os leitores, mas também os personagens que a subestimaram. A reviravolta final é uma prova concreta de sua inteligência, coragem e determinação. Jude se firma como uma verdadeira líder: destemida, estratégica e resiliente.
Além de Jude, outros personagens desempenham papéis importantes na construção da narrativa. Cardan, inicialmente apresentado como o antagonista cruel, revela gradualmente uma complexidade inesperada. Sua hostilidade se mostra, em parte, uma defesa moldada por um passado de abandono e negligência. Ao ser capturado e confrontado por Jude, sua vulnerabilidade emerge, revelando um personagem dividido entre arrogância e desejo de aceitação — um típico vilão com camadas, cuja crueldade nasce mais do medo do que da maldade.
Taryn, irmã gêmea de Jude, representa uma forma distinta de adaptação ao mundo das fadas. Enquanto Jude confronta a opressão com espada em punho, Taryn opta pela submissão e busca aprovação por meio de alianças e silêncios, chegando a trair a própria irmã, algo que demonstra toda a inocência que o Reino das Fadas tomou de Jude Duarte. Já Vivienne, a irmã mais velha, tenta proteger Jude, insistindo que fosse embora para o mundo mortal com ela, mas é afastada pela própria dureza que a protagonista constrói ao longo da trama. Por fim, Madoc, pai adotivo e guerreiro temido, é tanto seu mentor quanto símbolo de sua dor e medos, influenciando Jude com sua visão brutal de poder e honra.
O livro O Príncipe Cruel nos apresenta uma protagonista forte e determinada. Em meio a uma trama marcada por preconceitos, jogos de poder e traições, Jude se mantém firme. Ela não desiste de lutar por seu lugar na terra onde foi criada e se recusa a aceitar que sua mortalidade a torne inferior. A história de Jude nos ensina que coragem nem sempre é a ausência de medo: muitas vezes, é justamente a escolha de enfrentar esse medo para proteger aquilo que consideramos valioso. Recomendo esse livro para todos que desejam se transportar para um universo incrivelmente construído e cativante, mas fica o meu aviso: se prepare para se jogar de cabeça em uma trama envolvente, e para amar e odiar os personagens como se fossem reais.
—"O verdadeiro poder não é dado. O verdadeiro poder não pode ser tirado."
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