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Cobra Kai

  • Foto do escritor: Laura Lopes
    Laura Lopes
  • 13 de jun.
  • 3 min de leitura

A série Cobra Kai tem como proposta mostrar o que aconteceu com os personagens do universo de Karatê Kid (trilogia de 1984) após os eventos dos filmes. Lançada primeiramente em maio de 2018, a série rapidamente aqueceu o coração dos fãs antigos e conquistou novos telespectadores com sua combinação de nostalgia, drama e ação.


A trama principal se desenvolve a partir da rivalidade entre Daniel LaRusso e Johnny Lawrence, agora adultos, mas ainda profundamente marcados pelos eventos de sua juventude. Essa rivalidade é intensificada (pela teimosia dos dois) por suas visões opostas sobre o karatê e sobre a vida, o que gera boa parte dos conflitos da série.


Apesar de ser um drama muito bem construído, com ótimos arcos narrativos e desenvolvimento de personagens, a série em certo ponto se torna repetitiva. Os desentendimentos entre os personagens acabam girando sempre em torno da mesma questão: qual filosofia de karatê é a "correta" e deveria prevalecer. Essa insistência pode tornar alguns episódios cansativos, especialmente nas temporadas mais recentes — inclusive, confesso que ainda estou para assistir às últimas temporadas, mas os diretores trabalharam bem em não deixar essa repetição ficar extremamente saturada, implementando outros conflitos muito interessantes.


Além disso, não posso deixar de destacar o excelente trabalho de desenvolvimento de personagens. Um dos grandes acertos da série é a construção de Johnny Lawrence. Introduzido como um homem alcoólatra, solitário e frustrado com a própria vida, Johnny passa por uma transformação gradual e convincente. Acompanhá-lo foi inspirador, especialmente pela forma como os roteiristas reforçam a ideia de que nunca é tarde para mudar.


Uma mensagem marcante da série é que, em qualquer conflito, ambos os lados acreditam estar certos — e é justamente essa convicção que alimenta os desentendimentos. Cobra Kai trabalha bem essa perspectiva, mostrando como intrigas podem surgir a partir de mal-entendidos e má comunicação. Isso deixa o espectador dividido, com dificuldade de tomar partido absoluto por um ou outro personagem. Sempre que pensamos "eu odeio esse personagem", os roteiristas nos fazem mudar de ideia apresentando situações passadas, (todos, exceto o primo do LaRusso, o Louie).


Ao longo dos episódios, fica claro que a série não tenta impor heróis ou vilões absolutos (com exceção do Hawk, ele é o herói do povo). Todos os personagens são apresentados como humanos, com falhas e virtudes. O próprio John Kreese, inicialmente um antagonista clássico, ganha camadas quando temos acesso ao seu passado conturbado. Da mesma forma, personagens como LaRusso, que prega empatia e respeito, mostram atitudes teimosas e contraditórias constantemente. Um exemplo disso também é sua filha, que em certos momentos não decide se quer apoiar a amiga Aisha ou se juntar às colegas que praticam bullying com ela logo no início. Claro que defender uma amiga e acabar excluída, indo contra outras colegas, é uma decisão que exige coragem, mas a Samantha apresenta um sutil comportamento de hipocrisia e egocentrismo ao longo de toda a série.


Dos mesmos criadores de "o meu karatê é melhor do que o seu", também temos "eu sofri bullying e agora sou um babaca". De forma similar, a construção dos personagens em cima de uma história de superação é usada e abusada na série. Não é como se isso fugisse muito da realidade, porém se torna um pouco cansativo que praticamente todos os personagens que passaram pelo Cobra Kai eram excluídos, e agora construirão um caráter forte que cruzará, sutilmente, a linha da confiança, para se tornar apenas arrogância e babaquice.


Até onde acompanhei, Cobra Kai é, sem dúvida, uma produção de qualidade, com enredos bem trabalhados, personagens profundos e uma trama que prende. É uma ótima série para maratonar e se deixar envolver pelo universo do karatê, com lutas icônicas e emocionantes — e, além disso, pelas batalhas internas que cada personagem enfrenta.

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